segunda-feira, 19 de maio de 2008

Habitação




"Habitação é o nome dado ao lugar onde o ser humano vive.
Uma habitação é normalmente uma estrutura artificial (ainda que nos primórdios o ser humano tenha utilizado, para o mesmo efeito, formações naturais, como cavernas), constituída essencialmente por paredes, geralmente com fundações e uma cobertura que pode ser, ou não, um telhado.
Uma habitação serve, em termos mais pragmáticos, para providenciar abrigo contra a precipitação, vento, calor e frio, além de servir de refúgio contra ataques de outros animais (ou de outros seres humanos).” Wikiedia

Necessidade de Abrigo

"Necessidade de Abrigo:de abrigo, de refúgio, e isto é uma característica natural, independente da faculdade humana de produzir cultura. Não só o homem, como todos os animais buscam abrigo de algum modo. Alguns abrem tocas, outros abrigam-se em cavernas. Há aqueles que não se utilizam de abrigos, mas mantém-se unidos aos seus grupos, manadas etc, como forma de buscar uma segurança relativa. Com o Homem, apesar de os aspectos culturais alterarem a forma de abrigar-se, a necessidade de abrigo é imperiosa para garantir a sobrevivência."

Jérôme Moucherot


Banda desenhada e Jérôme Moucherot
Sou um leitor de banda desenhada compulsivo, especialmente a franco belga, durante a minha estadia na Alemanha tive a opurtunidade de ler a obra do autor francês Francois Boucq.
Uma das minhas principais influencias para este projecto foi uma personagem de banda desenhada deste autor o qual considero uma óptima metáfora ao mundo actual.
A personagem Jérôme Moucherot encarna perfeitamente no conceito do “tribal urbano”, que entendo que pode ser uma optima via de trabalho para este projecto, no sentido que a busca de abrigo ou refugio numa cidade é exactamente o mesmo instinto e representa o mesmo desafio de um animal no seu habitat natural.
Jérôme Moucherot é uma das mais desconcertantes personagens da Banda Desenhada Franco-Belga, movendo-se numa selva de cimento ele vive num mundo altamente surrealista onde a cidade se confunde com a selva e onde impera ao mesmo tempo a comodidade e a organização de uma cidade com a imprevisibilidade e exuberância de uma selva.
Jérôme Moucherot, ou “tigre de Bangela”, como é carinhosamente apelidado pela sua mulher, é um vendedor de seguros de mais idade, cujo sinal mais particular é ter sempre uma caneta em jeito de piercing tribal enfiado no nariz, e uma irrepreensível indumentária em pele de leopardo.
Jérôme Moucherot segue diariamente a sua cruzada contra o imprevisto, tentando vender apólices de seguro a todas as criaturas desse estranho, absurdo e estapafúrdio mundo, composto por homens, animais e...“homens-animais”.
Considero que a leitura destes álbuns de BD foram importantes na estruturação da ideia para este projecto.

Berlim enquanto refugio


A Ideia.
A ideia deste projecto nasceu em 2006, quando me desloquei à Alemanha pela primeira vez.
Aterrei em Frankfurt e, entre o aeroporto e a casa, passei por ruas desertas bem iluminadas e organizadas, campos com árvores altas e escuras, alguma neve e frio. Muito frio.
Cheguei em pleno Inverno com -4 ºC, após ter saído de Lisboa com aproximadamente 20 ºC.
O choque térmico provocado pela disparidade entre o clima temperado do meu país e este frio desalento foi tremendo. Imediatamente coloquei-me uma questão simples, que serviu de motivação para o desenvolvimento da ideia-base para este projecto: “Se dormisse na rua num país como este, que sítio escolheria para passar a noite?”.


Um canto de um edifício? Uma estação de metro? As traseiras de um supermercado? Debaixo de uma varanda? Entre dois arbustos? Um banco de jardim?
Apesar de estar instalado numa casa, esta foi a primeira ideia que me surgiu ao chegar à Alemanha, uma ideia que me acompanhou e fui desenvolvendo mentalmente durante os vários meses que ali estive.
Nesse período de tempo produzi uma série de fotografias e desenhos (em anexo) que mostram os locais que elegeria se me confrontasse com o problema de não ter abrigo para passar a noite.

Que locais escolheria e porquê?


O processo de constante raciocínio sobre esta ideia levou-me a querer desenvolver uma complexa teia de razões, motivos e escolhas sobre os vários locais que me podiam proporcionar segurança e abrigo do frio, de preferência secos e abrigados do vento e dos olhares.
Os cerca de 10.000 sem-abrigo da cidade de Berlim passam actualmente por este mesmo processo de raciocínio lógico e difícil. Apercebi-me de que a direcção do vento, inclinação do terreno, barreiras arquitectónicas e espaços esquecidos são, entre outros, critérios determinantes neste processo.
Muitos de nós decerto nunca tivemos que fazer tal julgamento, e este facto motivou-me ainda mais a continuar a pensar sobre o tema da escolha e da sua multiplicidade enquanto ponto de partida para a estruturação do projecto, ao mesmo tempo registando locais com potencial, segundo o meu próprio código de valores, e trabalhando sobre eles.

A minha escolha de um local para me abrigar será a mesma que a de outra pessoa? E porquê? Que princípios e razões me fazem a mim escolher um determinado local em detrimento de outro? O que privilegio quando escolho um local para dormir na rua? A segurança? O frio? Um local duradouro? Procuro uma comunidade de indivíduos com a mesma necessidade? Como defino a beleza arquitectónica e os locais abandonados numa cidade como Berlim? Quem é importante na cidade? Como seria ser sem-abrigo numa cidade com -4 ºC? Como é que as características externas da cidade revelam as almas dos seus habitantes? E em que medida sou eu diferente dos outros residentes da cidade?
Ideias como sobrevivência, apropriação do espaço público e responsabilidade social, bem como a reflexão multidimensional sobre os instintos básicos do Homem, e como se concertam com os lugares, servem de base à minha motivação para o desenvolvimento deste projecto.

Esquema de Trabalho

O objectivo é o de articular todo o trabalho já realizado por mim com o resultado de exercícios levados a cabo por outros indivíduos, levados a resolver o mesmo problema.
Assim, numa primeira fase, pretendo reunir um conjunto de registos fotográficos de lugares com possibilidades de abrigo numa determinada zona de Berlim (a definir). Estas fotografias vão ser pedidas a indivíduos que nunca antes tenham tido necessidade de pensar sobre isto. O requisito deste primeiro grupo de registos será: cada pessoa fotografará sítios onde, na sua opinião e segundo os seus valores, poderiam passar a noite. Esta recolha fotográfica será acompanhada e filmada por mim, e os intervenientes serão entrevistados quanto às suas escolhas e aos seus lugares.



A segunda fase será idêntica, mas com pessoas que têm, ou que já tenham tido, a necessidade real de diariamente procurar refúgio na rua: sem-abrigos ou ex-sem-abrigos.
O objectivo desta primeira fase é o de confrontar o raciocínio lógico com a realidade da experiência adquirida, os argumentos de quem nunca pensou no assunto com a experiência de quem não tem de facto habitação e vê a cidade como uma enorme “selva urbana” imprevisível que diariamente força os seus desalojados a fazer escolhas complicadas.
Os princípios que regem a escolha serão os mesmos para todos? Os sítios serão os mesmos?
A partir desta série de fotografias e entrevistas pretendo criar uma base de reflexão sobre esta realidade e sobre a possível beleza dos espaços esquecidos e abandonados que se podem tornar confortáveis e acolhedores, dependendo das circunstâncias.



As fotografias serão mostradas ao público despidas de qualquer formalismo expositivo.
A discussão a partir de todo este trabalho poderá favorecer a construção social do espaço público. A reflexão sobre a apropriação desse mesmo espaço destaca a existência de certos lugares esquecidos pela maioria da população.
A paisagem edificada torna-se assim um elemento destacado para a formação de práticas sociais marginais. Provavelmente todos esquecerão que viram estas fotografias, mas os lugares, na medida em que são incorporados no seu imaginário, continuarão a construir a imagem da cidade para esses indivíduos. É também através deste imaginário que a sociedade constrói uma imagem de si própria.



Esta primeira fase dar-me-á material suficiente para continuar a trabalhar num registo mais individual, desenvolvendo trabalhos em Desenho, Pintura e Vídeo (instalação) a partir do mesmo tema:
Berlim enquanto refúgio.


Berlin als unterschlupf


Berlin als unterschlupf
Haben Sie schoneinmal darüber nachgedacht, welchen Ort Sie in einer Großstadt wie Berlin wählen würden, wenn Sie gezwungen wären eine Nacht auf der Straße zu schlafen?

Als ich bei meiner ersten Deutschlandreise im Winter 2006 am Frankfurter Flughafen aus dem Flugzeug ausstieg, wehte mir eine eisige Kälte entgegen. Gerade eben war ich noch in Lissabon im T-Shirt durch die Straßen gewandert und nun schien selbst ein Winter-Annorak mich nicht vor dieser Kälte schützen zu können.

In diesen Tagen fing eine Frage an mich zu beschäftigen, die mich seither nicht mehr losgelassen hat:
Wenn ich hier gezwungen wäre auf der Straße zu schlafen, welchen Ort würde ich mir als Unterschlupf erwählen?

Infolge entstand eine Serie von Fotos und Zeichnungen, bei denen ich die Orte festzuhalten versuchte, an denen ich mir vorstellen könnte eine Nacht zu verbringen, wenn ich es müsste. Ich versuchte herauszufinden, nach welchen Kriterien ich diese Orte beurteilte und warum sie mir als Schlafplatz geeignet erschienen. Ich hatte den Eindruck, dass die wichtigsten Punkte für mein Wohlbefinden folgende waren: Schutz vor den Wetterverhältnissen, Sicherheit und die Gewährleistung einer gewissen Privatsphäre.

10.000 Obdachlose in Berlin machen täglich dieselbe Überlegung. Die Frage ist, ob diese Menschen ihre Schlafplätze nach den gleichen Kriterien auswählen; treffen sie doch ihre Entscheidung mit ganz anderen Erfahrungshintergründen. Oder sind die genannten Bedürfnisse so fundamental, dass sie alle Menschen in gleichem Maße betreffen?

Neben der Frage über die Bedürfnisse und der Wahl eines Ortes erscheint mir ein völlig anderer Aspekt noch äußerst bemerkenswert.

Die Orte, die als Schlafplätze erwählt werden: haben sie nicht eine besondere Qualität? Sind es doch meist unbeachtete, fast vergessene Orte, die scheinbar doch eine Art Gemütlichkeit ausstrahlen. Durch die Uminterpretation, die ihnen wiederfährt, erhalten sie einen gewissen Glanz, eine subtile Schönheit, die einem erst auffallen kann, wenn man seinen Blick verändert und bereit ist zu sehen, wovor man gewöhnlich die Augen verschließt.


Mein Projekt soll in zwei Phasen realisiert werden:
1.Sammlung von Material zum Thema
2.Weiterverarbeitung dieser Materialien in meiner künstlerischen Arbiet

Die Sammlung von Materiealien soll in zwei Schritten verlaufen:
Im ersten Schritt sollen Bürger von Berlin mit fester Adresse durch die Stadt gehen und sich Plätze aussuchen, an denen sie sich vorstellen könnten eine Nacht zu schlafen. Sie sollen diese Orte fotografieren und hinterher in einem Interview Gründe angeben, warum sie sich für diese bestimmten Orte entschiedne haben. Außerdem sollen sie bei ihrer Suche gefilmt werden.

In einem zweiten Schritt möchte ich mich mit obdachlosen Menschen von Berlin in Verbindung setzen und sie bitten mich zu ihren Schlafplätzen zu führen, und sie dabei filmen zu dürfen. Auch möchte ich sie in einem Interview befragen, warum sie an diesem und keinem anderen Ort ihr Nachtlager aufschlagen. Dieser Prozess wird nicht ganz einfach sein. Aber ich zweifele nicht daran, dass er möglich ist, und erachte diesen Schritt in meiner Arbeit als besonders interessant und wichtig.
Nach Abschluss der Sammlung von Material möchte ich auf andere Medien umsteigen (Zeichnungen und Malerei) und in den Prozess der künstlerischen Kreation einsteigen.


Es soll nicht ausgeschlossen werden, dass bei der Ausstellung der Arbeit auch das Arbeitsmaterial gezeigt wird, jedoch sollen Malerei und Zeichnungen im Fordergrund stehen.

Es sind also zwei Seiten einer Medallie, die mich dazu veranlassen als Künstler aktiv zu werden: Einerseits der Mensch, der seinen Schlafplatz wählt, diesen und keinen anderen, aufgrund von bestimmten Erfahrungen oder fundamentalen Bedürfnissen. Und andererseits: der gewählte Ort mit seinen besonderen Eigenschaften, seiner subtilen, dreckigen Schönheit und seiner eigenartigen Beziehung mit den Bewohnern der Stadt.